sábado, 30 de maio de 2015

Lúcio e Natália conseguiram controlar a multidão e voltaram para dentro do castelo.

- AQUELA DESGRAÇADA! - Natália andava de um lado para o outro gritando enquanto Lúcio, sentado no trono, ria - EU VOU ACABAR COM ELA NEM QUE SEJA ÚLTIMA COISA QUE EU FAÇA NA MINHA VIDA!

- Ficar com raiva não vai ajudar em nada - Lúcio se divertia com toda aquela cena.

- Me esquece Lúcio, vai arranjar o que fazer. - a princesa se sentou em frente a sua penteadeira e abaixou a cabeça por entre os braços.

- Eu vou mesmo - Disse o deus se levantando e indo para o espelho da penteadeira - Vamos dar uma ajuda ao Lord Blank.

Na imagem do espelho dessa vez, estavam Prado, Lanuzi e Tânia cavalgando a toda velocidade, até que pararam por causa de um penhasco a frente.

- O que faremos agora? - Prado perguntou.

- Eu não faço a menor ideia. - Tânia falou fitando o outro lado.

- Podemos descansar um pouco? - Lanuzi disse descendo do cavalo - Estou cheia de dores e com fome.

Tânia e Prado estavam preocupados, não queriam desistir de chegar a vila do outro lado do abismo, porém estavam exaustos e concordaram com a mulher grávida. Desceram de seus cavalos, os amarraram numa árvore ali perto e sentaram-se na grama.

- Acha que ainda estão procurando a gente? - Prado perguntou olhando para o céu azul.

- Sem dúvida alguma, Natália quer me ver morta e se possível com minha cabeça na mão dela - Tânia deitou-se botando as mãos sobre a cabeça.

- Se é assim vamos embora logo, antes que eles cheguem - Lanuzi disse ficando preocupada.

- Não se preocupe, eles não me procurariam por aqui - a filha de Amélia disse calmamente - Este aqui é o caminho mais rápido para chegar a vila do outro lado, o que normalmente todos usam é por dentro da floresta.

O que vamos fazer para atravessar então? - Prado perguntou.

- Eu não sei vocês mas eu irei buscar algo para comer - a esposa de Prado se levantou mas ele puxou sua mão.

- Acha que te deixaria ir sozinha? - Ele disse.

- Meu amor eu estou grávida, não doente - ela sorriu - ainda consigo andar e catar algumas frutas que encontrar, volto em um instante.

Lanuzi saiu andando para dentro da floresta, Tânia riu de toda aquela situação.

Não muito longe dali Lord Blank procurava os fugitivos, embora já os tivesse perdido de vista. A voz de Lúcio ecoou em sua mente.

- Blank, eu vou lhe passar a localização exata da prisioneira grávida, pegue-a primeiro e terá certa vantagem contra Tânia - o cavaleiro deu meia volta e partiu a toda velocidade para noroeste.

Tânia e Prado ainda estavam aguardando Lanuzi voltar com os alimentos.

- Ela não está demorando muito? - Prado não conseguia esconder sua preocupação.

- Calme Prado, ela já deve estar voltando. - Tânia também estava levemente preocupada.

De repente os dois ouvem um barulho vindo de um arbusto do lado esquerdo, Tânia levanta, pega seu arco e aponta uma flecha na direção do mato.

- Quem está ai? Vamos, saia!

Por um momento nada acontece, mas alguns instantes depois  Lanuzi sai de dentro do arbusto, Prado se sente aliviado e corre para abraçar sua noiva quando Tânia atira uma flecha em sua frente para que ele parasse de correr.

- Cuidado Prado, repare em suas mãos. - nos pulsos da mulher, uma algema de gelo a prendia em algo que eles ainda não conseguiram enxergar.

- Ela se chamam correntes de glaciem - Blank saiu de trás de Lanuzi com uma corrente na mão ligada a algema. - uma corrente de gelo, que faz com que a temperatura do corpo de seu prisioneiro caia gradativamente até que morra congelado.

- Solte ela agora! - Tânia apontava um flecha para o peito do lord.

O servo de Natália sorriu e lançou  a corrente para uma árvore atrás dele que se prendeu ao tronco. Prado quis correr para perto de Lanuzi, mas Blank uniu suas duas mãos e várias espadas ficaram em volta da mulher formando uma grade. O lord puxou sua espada e a segurou com as duas mãos de frente para Tânia desafiando-a.

- Venha, quero ver do que você é realmente capaz.

Mesmo com uma espada gigantesca a destreza e velocidade de Blank eram incríveis, Tânia só conseguia desviar dos ataques e não tinha espaço para atacar.

- Eu posso ficar nisso o dia todo!

Suas investidas continuaram, Tânia estava ficando já sem espaço para fazer qualquer coisa, até que ela ficou a um passo de cair no abismo. Quando o perverso guerreiro girou sua espada, Tânia agachou, o derrubou pela perna e correu para o lado oposto ao do penhasco. Enquanto isso, Prado tentava achar um jeito de resgatar Lanuzi que já estava tremendo de frio.

- Acalme-se meu amor vou resgatar você e nosso filho - Ele pegou uma pedra e jogou em uma das espadas que nem se quer tremeu.

- Prado... Eu estou com frio... - Lanuzi já estava falando tremendo os lábios.

- Eu vou dar meu jeito, só respira fundo e resista. - Prado não conseguia segurar seu desespero.

Tânia corria por dentre as árvores, enquanto Lord Blank cortava todas elas com sua enorme espada.

- Não adianta tentar fugir ou correr de mim, isso logo logo acabará e não sou eu quem irá padecer. - Blank gargalhou.

Tânia sabia que não conseguiria ficar correndo dele o tempo todo, até que quando chegou a um campo aberto, ela desistiu de fugir e o encarou de frente.

- Acha mesmo que é capaz de me derrotar num duelo?

- Eu sei que sou tão capaz quanto você de ganhar isso.

Blank partiu para cima, sua velocidade era incrível, era como se seu corpo ignorasse o peso da espada e flutuasse. Tânia correu ao encontro dele e bradou.

- Calaya! - A espada apareceu em sua mão com tempo o bastante para que Tânia defendesse o ataque do Lorde. Uma luz forte brilhou quando as duas espadas se chocaram. Os dois se afastaram, mas continuaram com suas espadas apontadas um para o outro.

- Sabe, eu sempre quis enfrentar um portador de uma das armas sagradas.

- Armas sagradas? não sei do que você está falando.

- Calaya, a espada raio de luz criada pela deusa da bondade Amélia, somente sua filha legítima poderia utiliza-la.

Tânia ficou surpresa, mas escondeu esse sentimento partindo para cima de Blank, a guerreira também era rápida, o Lord quase não conseguia defender seus ataques. Eles estavam cara a cara agora com suas espadas. Eles se afastaram, Tânia colocou Calaya em suas costas, sacou seu arco e correu na direção oposta a do servo de Natália.

- Decidindo fugir de novo? - O lorde juntou as mãos, espadas saíram do chão cercando todo o campo pastoso e formando uma arena ao ar livre - Eu acho que você não vai a lugar algum.

A guerreira se virou para ele e atirou duas flechas, uma foi desviada pela espada do lorde a outra bateu na armadura e caiu de lado. Tânia puxou Calaya e partiu para cima novamente, não importa qual movimento ela fizesse o Lord sempre defendia.

- Minha armadura é demais para suas armas leves, veja você nem arranha ela - Ele gargalhou.

Exausta, cansada e sem saber o que fazer, Tânia estava pensando no que mais poderia ser utilizado, mas em todas as tentativas falhou. O lord continuava vindo para cima, ela defendendo os ataques, até que um deles faz um corte em seu braço. Tânia grita de dor.

- É assim que acaba? A tão poderosa filha de Amélia vai morrer tão fácil assim?

Blank partiu para cima, Tânia tentou se defender mas o golpe do lord foi tão forte que jogou Calaya para longe. Ela cai de joelhos.

- E depois de matar você, seus amigos serão os próximos. - Deu para ouvir a gargalhada dentro do capacete.

"Mãe eu não consegui cumprir meus desejos, me perdoe... Eu não queria morrer assim... Eu só queria pedir a sua benção antes de morrer... Eu... te amo mãe!" Tânia começou a chorar.

- Ain, que meigo chorando como se isso fosse me comover... morra Tânia!

Quando Blank ia acertar um golpe em direção ao pescoço de Tânia, uma bola de fogo enorme sai de dentro de uma das árvores e acerta ele em cheio, fazendo-o recuar.

- Quem está ai? - Blank olhava para todos os lados, mais uma orbe veio do seu lado direito o acertando.

Prado e Lanuzi chegam por trás de Tânia e a puxam para longe do Lord.

- Você está bem? - Prado pergunta, rasgando um pedaço da sua calça para enrolar a ferida de Tânia.

- Podia estar melhor - Ela respirou e olhou para Lanuzi - Como conseguiu sair daquele treco?

- Digamos que tivemos certa ajuda - Ela sorriu e apontou para as bolas de fogo que saiam das árvores.

Um meteoro colidiu com Blank, mas ele conseguiu desviar.

- Apareça seu rato!

Um animal pequeno sai de trás de uma das árvores, anda em direção ao Lord, cruza os braços pequenos e diz.

- Eu não ser rato, eu ser Dragato! - Tânia ao longe conseguiu identificar o animalzinho como um gato cinza com asas de dragão.

- Seu insolente - O lord tentou acerta-lo com a espada, mas o felino subiu pela espada e chutou o capacete dele fora mostrando a sua verdadeira face.

Tânia não reconheceu de primeira o rosto de Blank, mas quando conseguiu focar bem nele, pode perceber que aquele rosto era conhecido e não só por ela, mas Prado e Lanuzi também reconheceram o homem.

- Não pode ser! - Lanuzi arregalou os olhos demonstrando sua enorme surpresa. - Lord Blank na verdade é o rei Drest!?

As duas ficaram tão surpresas que nem puderem reparar que Prado havia sumido.

- Lanuzi, onde Prado está? - Lanuzi olhou para um lado, para o outro e levantou os ombros mostrando que também não sabia.

O dragato era rápido demais, nenhum ser humano conseguiria alcançar aquela velocidade, ele colocou a pata na espada do inimigo, fazendo ela ficar vermelha e então Blank solta-a no chão de tão quente.

- Lanuzi! - Tânia apontou - Ali!

Lanuzi olhou seu marido chegando perto da batalha com uma pedra na mão. Ele arremessou acertando o servo de Natália bem na cabeça, fazendo as espadas sumirem do cerco. Tânia se levanta e vão para perto do homem desmaiado no chão.

- Esperava mais de você rei. - Tânia diz puxando ele e o amarrando numa árvore.

O Dragato chegou perto de Tânia puxou sua calça para que ela olhasse para baixo para ele.

- Eu ser seu mascote, Amélia mandar eu para te ajudar nas batalhas contra os malvados

- E qual seu nome meu amiguinho? - Ela agachou e passou a mão sobre o pelo dele.

- Eu me chamar Ignis, o portador da arma sagrada do fogo!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Depois de ter apresentado para Tânia que sua maior inimiga havia participado de seu passado, as árvores voltaram ao normal desfazendo o círculo. Tânia estava com muito raiva de Natália, ela sentou de volta na pedra e não conteve o choro, saber que teve dois pais que sempre cuidaram dela, era demais.

- Amélia, eu quero ver mais - Ela disse limpando o rosto com um pedaço de pano.

- Isso é tudo que eu posso lhe mostrar, essas foram partes da sua memória que ainda estavam com você - Amélia se aproximou e sentou-se ao lado de sua filha - O resto dela, bom você já sabe com quem está...

Tânia tinha tantas perguntas, tanta dúvidas, não sabia por onde começar, queria saber de tudo sobre a vida que ela não conseguia se lembrar nem um pouco que fosse.

- Então...

- Pode falar filha estou aqui para tirar todas as dúvidas que você tiver - Ela sorriu.

- Porque retirar minha memória?

- Desconfiei que essa fosse a primeira pergunta. Bom, quando você era pequena eu pedi para meus pais te levarem ao prognóstico também, visto que eu estava banida dos reinos divinos e seu pai expulso - Ela deu uma pequena pausa para uma risada bem simples - O oráculo fez uma profecia especial sobre você e a revelação foi:

Das Trevas nasceu;
Na menina, a luz apareceu;
Cabe a ela decidir;
O destino que irá seguir.

Amélia continuou.

- Todos os bebes normalmente nascem com o coração para bem ou para o mal, só que você nasceu especial, seu coração tem duas partes uma das trevas e outra da luz.

- Devido aos meus pais serem os deuses das trevas e da luz? - Tânia riu levemente.

- Exatamente.

- Mas você ainda não me contou o porque de retirar minhas memórias.

- Lúcio e eu percebemos que você não era capaz de aprender magias devido a sua imunidade a ela, então te ensinamos a caçar com seu arco e a utilizar armas leves - Amélia balançou a mão e uma espada surgiu, mas não uma comum, sua lâmina era bem fina, não parecia ter sido forjada por humanos - Eu sempre quis te dar isso, mas não conseguiria devido as trevas em seu coração, e como agora você teve seu destino traçado para o caminho da bondade, ela é sua.

Quando Tânia pegou a lâmina, quase não sentiu seu peso, uma pena devia ser mais pesada do que aquela espada.

- Que bonita que é - Ela balançou a espada de um lado para o outro e reparou que tinha algo escrito na empunhadura - Calaya, O que significa?

- Na língua dos deuses Calaya significa, raio de luz. - Ela sorri vendo a filha ficar admirada com o presente. - dei esse nome por ela ser bem rápida e ter a propriedade da luz em seus ataques, podendo ferir qualquer ser das trevas, além de ser inquebrável.

- Eu adorei, mãe.

- Para invoca-la apenas diga Calaya e ela aparecerá em suas mãos seja onde for.

- E como ela volta para onde veio?

- Enterre-a e diga reditum, ela sumirá.

- Tudo bem, entendi - Tânia enterrou a espada, disse a palavra e ela sumiu num raio de luz em direção ao céu - Continue eu quero saber tudo que puder me contar.

- Como eu ia dizendo, assim que seu pai e eu percebemos que você tinha duas virtudes em seu coração e que era imune a magias, decidimos então te tornar uma corajosa guerreira - Amélia se levantou, foi até o lagarto que observava tudo e o pegou o colo - até que um dia, Natália se revoltou com nossa família e armou contra nós, não é mesmo bruxa?

Amélia olhou pro lagarto que voltou a ficar sem vida no momento em que ela terminou a frase. Tânia arregalou os olhos.

- Pera, esse tempo todo ela estava nos vigiando? Como a senhora percebeu?

Sim estava. - Amélia voltou a se sentar na rocha - Eu percebi o movimento assim que ele chegou mas deixei que ouvisse até essa parte, porque de agora em diante o que te contarei será de mãe para filha apenas. - Ela respirou e continuo a falar - Natália tinha muita inveja de você, nunca teve família, então todas as vezes que ia no castelo treinar com seu pai ou nos visitar eu percebia uma certa raiva dela por você.

- E o que foi que ela fez?

- Bom, a inveja consumiu seu interior, Natália ficou perversa, então no meio de uma noite bem tranquila enquanto nós estávamos dormindo, ela invadiu o castelo e roubou o livro de feitiços do seu pai.

- E o que tem de mais? Não é só um livro de feitiços qualquer?

- O livro de feitiços do Lúcio é até hoje o livro mais forte de magia que existe, o problema não foi ela ter roubado ele. - Amélia estava começando a ficar transparente - Essa não, isso não é bom.

- Mãe o que está acontecendo? - Tânia estava ficando assustada.

É disso que eu estava falando, preciso ser rápida Tânia, Natália não queria o livro para aprender alguns feitiços - Amélia já estava sem os membros - Ela amaldiçoou a mim e a seu pai, nós não podemos ficar no mesmo mundo e ela tirou toda a parte boa que havia nele. Cuidado ele agora é totalmente maligno.

Entendi então ele está na Terra.

- Para eu estar sendo puxada de volta tão rápido ele está perto. Tome cuidado minha filha, eles querem matar você.

- Foi bom te ver Amélia, digo mãe! - Tânia sorria feliz - Quero saber mais sobre minha vida, vamos nos encontrar de novo, eu te prometo.

Amélia sorriu, deu as costas e sumiu. A filha ficou vendo a aura da mãe indo embora em direção ao céu, vestiu seu sobretudo e partiu cavalgando.

- Aquela imbecil sabia que estávamos vendo tudo!

- Querida, nunca subestime Amélia. - Ele sorriu - A essa hora ela já deve ter sumido do planeta e voltado para as terras de Zelani.

- Temos que prever o próximo movimento de Tânia, agora que ela sabe de tudo pode se tornar um perigo para nosso futuro.

- Agora o futuro é nosso? Isso é uma parceria minha querida? - Lúcio ofereceu a mão para a aluna.

Natália aperta a mão do mestre e sorri.

- Temos uma inimiga em comum, sua filha, e precisa ser detida o quanto antes.

- Mas ela não vai ser burra de fazer um ataque direto, temos Otávio, Lanuzi e Prado conosco, ela não seria idiota.

Enquanto os dois conversavam e discutiam sobre o que poderia ser feito para impedir que Tânia estragasse todo plano deles, uma serva entra desesperada pela porta, toda suja e de avental. Ela se curva e permanece assim durante todo o aviso.

- Minha senhora, vim lhe informar que Lorde Blank chegou, ele disse que virá ao encontro da senhora em alguns instantes.

- As coisas estão começando a dar certo. - Ela sorriu.

A serva continuava curvada ali.

- O que ainda faz aqui? Já não deu o aviso?! Suma da minha frente!

A escrava fez que sim com a cabeça e saiu desesperada pela porta. Natália se voltou para Lúcio que olhava para a penteadeira dela, se arrumando.

- Então acho que vamos precisar decapitar o casal pobre que ajudou minha filha - O deus das trevas disse de forma sugestiva.

- Porque eu faria isso? - a princesa indagou - eles não seriam outro motivo para Tânia não nos atacar?

- Você tem um problema maior.

Lúcio balançou a mão perto do espelho, que agora mostrava o povo lá fora gritando "Morte aos traidores!", "Vocês disseram que iam matar quem ajudasse a Tânia!".

- Se não der o que o povo quer, eles vão se virar contra o reino de Drest e aí que você vai ver o que será problema de verdade.

Natália engoliu a seco, ela concordou que deveria executar Lanuzi e Prado. Enquanto os dois continuavam a pensar em algo, um soldado de armadura branca e dourada com sua espada enorme pendurada nas costas entrou e se ajoelhou.

- Madame, trouxe tudo que a senhora pediu, aqui está.

Ele tira o saco do bolso e entrega a Natália.

- Lord gostaria de nos acompanhar na execução de hoje?

Ele apenas concordou com a cabeça e os acompanhou, os três saíram da sala e foram ao encontro do povo que estava reunido lá fora para ver as execuções do dia. Saíram vários presos mas quando Lanuzi e Prado apareceram na fila o público foi ao delírio, bateram palmas e comemoraram. Natália, Lord Blank e Lúcio que estava com capuz para que ninguém reconhecesse sua face, chegaram e se sentaram em seus respectivos tronos.

Natália se levantou e começou a falar.
 
- Meu caro povo, meu pai o vosso rei Drest, não pode comparecer ao dia de execuções de hoje - Disse a princesa bradando para que todos pudessem ouvir o anúncio - Então fui designada para comandar o ritual de hoje!

O povo aplaudiu a princesa.

- Então o que vocês querem?

Todas as pessoas que estavam ali gritaram e pediram por vingança.

- Então prepare os presos - Natália se sentou em seu trono.

O soldado real reverenciou a princesa e acorrentou os prisioneiros a um poste de madeira, jogou feno e palha seca em volta deles e os encheu de óleo de baleia, ele acendeu a tocha e ficou virado para a princesa esperando a ordem.

- Se é isso que vocês querem, então darei isso a vocês - O povo comemorou - Que comecem as execuções!

O servo ergueu a tocha  e a inclinou em direção ao feno que rodeava, quando ao longe uma mulher cavalgando num cavalo vinha em direção aos portões do reino, todos puderam reconhecer a maior fugitiva daquele país, a princesa se levantou espantada.

- Como ela pode ser tão idiota de vir fazer um ataque direto? - Ela sussurrou para Lúcio que deu um sorriso meio torto.

- Temos que admitir que a coragem dela não é de jogar fora.

O guarda estava parada esperando uma nova ordem da princesa.

- O que está esperando, acenda logo a fogueira humana, vamos!

Assim que o soldado estava prestes a atear fogo naqueles prisioneiros, uma flecha voa e acerta em cheio seu peito, fazendo ele cair, com isso a multidão ficou perplexa e em silêncio, não estavam entendendo o que aconteceu. 

Tânia continua avançando e retira uma corda da bolsa laçando o pescoço de um soldado que estava em seu caminho arrastando ele atrás do cavalo. Natália então, conjura uma orbe de magia negra e lança sobre Tânia, nesse instante a multidão entra em desespero e as pessoas começam a correr de um lado para o outro numa tentativa de evitarem a própria morte..

- Calaya! - A espada aparece nas mãos de Tânia que corta a magia em duas e faz com que a bruxa erre o alvo.

- Como isso é possível!? - Disse Natália olhando para Lúcio.

Lúcio apenas gargalhou em deboche, Tânia chegou aonde os prisioneiros estavam e soltou todos.

- Prado, preste atenção pegue Lanuzi vá ao estábulo e pegue um cavalo, eu lhe darei cobertura enquanto isso.

Prado assentiu com a cabeça e foi para onde Tânia dissera. A guerreira derrotava qualquer soldado que vinha tentar impedir e cortava qualquer magia lançada pela princesa Natália, assim que Prado chegou ao estábulo pegou um corcel, botou sua mulher em cima dele e saiu. Tânia parou olhou para os três que estavam no trono, mais particularmente para Lúcio, ela apontou para ele e em seguida passou o dedo em seu próprio pescoço, desafiando o pai, ele apenas sorriu.

Os três estavam quase no portão, quando Lúcio fala para Lord Blank descer lá e impedir a passagem, ele concorda com a cabeça e se teleporta para frente do portão. O lorde da as costas para os dois cavalos, fala algumas palavras e sua espada se expande fazendo um escudo enorme, por sorte Prado consegue passar com o cavalo mas Tânia fica para trás. Ele desfaz o escudo e vira de frente para ela.

- Me deixe passar Lorde ou você será o próximo - Ela diz apontando Calaya em direção a ele.

- Acha mesmo que consegue me derrotar com essa coisinha?

Sem perceber que Lanuzi estava chegando perto com um pedaço de madeira, Blank recebe um golpe que não o machuca mas o distrai tempo o bastante para que Tânia passe por ele, então os três fogem floresta a dentro.

- Vá! Siga-os e me traga todos mortos - a voz de Lúcio ecoou na cabeça do Lorde que percebeu que o deus estava falando com ele por pensamento.

Ele assobiou e seu cavalo veio relinchando, o lorde o montou e cavalgou floresta dentro atrás dos três maiores fugitivos da história...

domingo, 24 de maio de 2015

Estamos estreando hoje o novo layout!
Espero que gostem.

Kirito ~



sábado, 16 de maio de 2015

Otávio estava fraco, pálido, desidratado e exausto, suas roupas já estavam imundas. Deitado no chão gelado não sabia mais o que fazer, rolava de um lado para o outro na esperança de que alguém o salvaria. 

Havia ficado preso por tanto tempo que o príncipe perdera a noção do tempo ali dentro. Voltou seus olhos para o único lugar a onde tinha luz, quando ele ouve alguém abrindo a porta, mas desta vez não é quem ele pensava, uma serva adentra correndo, respirando fundo, cansada, à solitária sala escura. Ela chega perto do prisioneiro real, com roupas novas, uma tigela de comida e um vaso com água.

- A princesa Natália pede que vossa alteza se apronte para sair da cela. - Ela se ajoelha e entrega tudo a ele.

Otávio segura a mão dela e a olha como se implorasse por ajuda, ele não tinha forças nem para falar, a serva o olhou e lacrimejou, ela também não gostava de vê-lo assim, mas eram ordens de sua mestra, caso não obedecesse seria executada.  Ela fez o que Natália pediu, secou suas lágrimas e saiu dali. Dessa vez o rapaz não negou a comida e nem a água, que para sua sorte não estavam com nenhum tipo de feitiço, apenas matou sua fome e sede.

A serva foi direto para a sala do trono, e lá ela encontrou Natália sentada na cadeira do rei, com seu vestido azul, enquanto um de seus servos massageava seus pés e o outro dava aperitivos em sua boca. A serviçal se curvou, ela estava suja e com cara de quem não havia dormido a dias.

- Mestra, já fiz o que a senhora pediu. - Ela falava o tempo todo de cabeça abaixada - Mais algum desejo a ser realizado?

- Apenas que fique atenta, pois assim que lorde Blank chegar peça-o para vir a sala do trono necessito falar com ele.

- Sim madame.

A serva se levantou limpou seus joelhos com as mãos e saiu daquele local. 

Passado alguns instantes, Natália se sentou em frente a sua penteadeira e onde se admirava e arrumava seu cabelo, quando um homem de altura mediana, pele branca como a neve, usava uma armadura feita de metal todo preto, com uma capa vermelha onde estava escrita "SANGUE", possuía chifres de bode na cabeça, no rosto uma cicatriz marcava-o do olho até o queixo e seus dentes eram tão afiados que conseguiria cortar até o ferro mais duro existente apareceu logo atras dela. 

Sorrindo o homem abriu os braços e disse:

- Sentiu saudades minha querida? - O homem falava de modo idêntico à uma serpente, sua voz ecoava na sala. Natália se virou e quando viu quem estava a sua frente, ficou estagnada, arregalou os olhos e deixou seu pente cair.

- Lú... - Ela engoliu a seco - Lúcio? Como... como conseguiu quebrar?

- Ora acha mesmo que aquele selo iria durar para sempre, minha querida? - Ele chegou perto dela segurou seu queixo - Sorte sua que eu não posso lhe machucar.

- Me larga! - Ela virou o rosto se soltando das mãos dele - Saia daqui agora!

- Pode deixar que eu não vou interferir em seus planos. - Ele sorriu - Mas nós dois sabemos que nem eu e nem você podemos machuca-la, na verdade nenhum mago negro pode. Como você vai fazer? Mandar seu exército para cima dela? - Agora ele gargalhava em deboche, enquanto, num balançar de mãos, fez com que uma taça de vinho aparecesse em suas mãos, tomou um gole e continuou - Tão bobinha que nem pensou em nada...

- Cale-se! Eu não preciso mais de suas ordens ou ensinamentos, já sei tudo que eu devia saber - Ela estava furiosa observando cada passo que ele dava por aquele quarto - Sou a maga mais poderosa viva na terra.

- É? Sorte sua que ela não seguiu o caminho do mal, se não - Ele se teleportou para trás dela e passou seu dedo sobre seu pescoço, como se o cortasse e arrancasse a cabeça fora. Natália engoliu seco.

- Amélia nunca contaria a verdade para ela.

Lúcio riu, bem baixo, em deboche a última frase de Natália. Ele mexeu a mão e o espelho da penteadeira agora estava focado na cara de Tânia. 

Amélia, sua mãe, estava sentada ao seu lado conversando sobre algo, mas os dois malvados não podiam ouvir uma palavra sequer, apenas viam as bocas se mexendo. Natália novamente ficou surpresa, ela correu até uma cômoda, abriu uma gaveta e retirou um lagarto morto de dentro dela. A princesa puxou o ar, soprou uma névoa roxa em cima do bicho e ele ganhou vida.

- Vá e seja nossos ouvidos. - Ela o colocou no chão e o réptil saiu rapidamente em direção a floresta.

- O que seria de você sem mim ? - Lúcio sorriu.

Natália cruzou os braços, odiava depender de alguém, principalmente quando esse alguém era o ser das trevas mais poderoso até então existente.

- Você sempre foi minha aluna favorita de magia negra. - Ele passou a mão sobre o cabelo dela e o cheirou.

- Sai de perto de mim! - Ela o empurrou. - Vamos ficar quietos, precisamos saber o que Amélia vai dizer a Tânia para poder agir logo.

Lúcio consentiu e ficou observando o espelho junto da princesa das Trevas.

- Então quer dizer que esse tempo todo você estava alterando a minha memória? - Tânia estava confusa - Mas porquê?

- Vou lhe contar tudo que você queira saber, mas com calma - A mulher dizia, sua voz era doce. - A história de sua vida começa assim...

- Vamos eu quero muito saber - Tânia cortou a mulher.

- Se acalme querida, vou lhe contar - Ela parou e continuou - Então como eu estava dizendo, a história de sua vida, na verdade começa a muito tempo atrás, um tempo em que existia uma deusa muito amada e contemplada, a filha da deusa da bondade e do deus da generosidade, seu nome era Amélia.

- Pera... - Tânia arqueou sua sobrancelha - Você é uma deusa?

- Sim, eu sou conhecida como a deusa da luz - Amélia sorriu - Enfim, os povos me amavam, todos vivendo em paz, até que em um dia bastante calmo, todos receberam a notícia de que os deuses do submundo haviam gerado um filho, e deram a ele o nome de Lúcio. O menino que nascera, filho do deus do caos e da deusa da ruína, carregava em seu coração quantidade de trevas nunca vista antes em ninguém, superava até mesmo a de seus pais - Amélia deu uma pausa, respirou fundo e continuou - Um dia os dois deuses do submundo foram ao prognóstico, aqui na terra o conhecem como oráculo, para saber o destino de Lúcio. Então ele lançou uma profecia:

A filha do bem e do mal, nascerá;
Imune a magia ela será;
Paz a Terra ela trará:
E o povo a ela, amará.

Dos ventres da bondade;
Duas crianças nascerão;
Um coração será a ruína da divindade;
E o outro, a salvação.

- E aí? O que houve com o menino? 

- Então após ouvir aquelas palavras da boca do oráculo e com medo do possível fim deles, os deuses bons e maus decidiram afastar os bebês um do outro. Pediram ajuda a Zelani para que fizesse um portal que levasse um deles para a Terra mas a questão era: Qual dos dois seria banido das terras divinas? Então houve uma votação entre todos os deuses menores e o resultado foi unânime: Lúcio seria banido e nunca mais teria acesso as terras dos deuses.

- E os pais dele aceitaram sem nem lutar pelo filho? - Tânia sentia uma pequena pena do bebê.

- Na verdade as coisas não aconteceram como deveriam. O deus do caos não aceitava que seu único filho nunca conhecesse os próprios pais, ele não podia deixar as coisas como iam acontecer, então uma noite antes do grande banimento, o deus aprisionou a deusa da bondade numa jaula especial e ameaçou mata-la caso eles não banissem a mim. Eles não podiam deixar a deusa morrer, então Zelani se voluntariou para cuidar de mim na Terra, visto que os deuses maiores não podem visitar solo terrestre. O acordo foi feito, eu fui banida e criada por Zelani aqui nesta floresta. Ela me ensinou a controlar meus poderes, a respeitar a todos e me contou sobre tudo, até sobre você e sua procura pelo príncipe.

- Mas o que aconteceu com Lúcio e o resto dos deuses? - Tânia perguntou se levantando, esticando as pernas e arrumando as botas.

- Lúcio se revoltou com todos os deuses e iniciou uma guerra contra os quatro deuses maiores, na época, já adulto, ele ganharia a batalha, então sem escolha os deuses bons expulsaram-no. Mil anos depois vagando por este planeta imenso, nesta mesma floresta, ele havia feito um castelo, um castelo enorme, onde ficara sozinho. Numa terrível tarde de tempestade, o sino toca e Lúcio que nunca tinha recebido uma visita, vai ate porta e ao abrir se depara com uma garota toda molhada. "Eu poderia entrar apenas para esperar essa chuva passar?" Lúcio teria ignorado e continuado sua vida, mas por alguma razão que nem ele mesmo conhecia, ele a deixou entrar.
- Mas pera ai, Lúcio não é o ser com o coração mais escuro que existe até então? - Tânia perguntou confusa - então porque ele seria bom com aquela menina?
- Existem coisas que nem mesmo nós, os deuses, compreendemos - Amélia sorriu e olhou para o lagarto de Natália na árvore  - A garota ficou maravilhada com a imensidão do castelo que Lúcio tinha, ele a deixou ficar por dias ali e ela não querendo ir embora, ficou. Os dois acabaram se apaixonando, por centenas de anos moraram juntos sem nenhuma pessoa por perto, o tempo foi passando e a mulher acabou ficando grávida dando a luz a uma linda menina, os dois a amaram muito e criaram-na como se fosse única na vida deles. Tudo estava indo bem ate que... - Amélia puxou a varinha, se levantou, apontou na direção de duas árvores que ali estavam, elas se contorceram formando um pequeno círculo - veja você mesma.
Tânia agora estava totalmente focada. Começaram a aparecer imagens de Tânia nos seus 18 anos, mas eram imagens totalmente diferentes do que ela se lembrava, nas imagens ela e a mãe se arrumavam para alguma coisa importante.

"Filha como você está linda!"

"Se não fosse pela senhora, obrigada mãe." Tânia sorria muito feliz.

Amélia e Tânia se abraçaram e saíram do quarto de mãos dadas. As duas se dirigem a uma sala onde um homem estava sentado de costas para elas numa cadeira já conhecida por Tânia.

No círculo a história continuava, a jovem Tânia anda em direção ao trono, o homem se levanta e vira. Sua aparência assustaria qualquer menina pequena, suas roupas elegantes não conseguiam tirar a atenção do seu rosto, seus chifres de bode e seus dentes afiados, davam para ser vistos de longe, porém ele exclamou "Minha filha!". Tânia o abraçou.

- Pera nossa casa era o castelo do rei Drest? - Tânia perguntou surpresa, Amélia apenas concordou com a cabeça e apontou para portal para que a filha focasse nele.

Naquela noite os três comemorariam mais um ano de vida da jovem, estava tudo ocorrendo como havia sido planejado, até que alguém bateu à porta.
 
"Nossa convidada especial chegou!" Exclamou o homem mostrando os dentes afiados num belo sorriso.

 "Pode deixar que eu atendo, Lúcio" Amélia sorriu e saiu.

- Para a visão por favor... - Tânia lacrimejava - Se Lúcio é meu pai, então... eu sou o bebê da profecia...

- Sim, minha filha... - Amélia consolava Tânia num abraço - Era isso que eu queria te mostrar, precisamos recuperar suas memórias de volta.

- Mas Amélia, se não estão com você... - A filha de Amélia se controlava para não chorar - Com quem mais estaria?

- Com ela...

A visão continuou, enquanto Tânia sorria junto de Lúcio. Amélia volta com uma menina mais ou menos da mesma idade de sua filha, o vestido que ela usava era longo e preto, seu salto e sua luva também da cor preta. O pai de Tânia se levantou foi até a garota, trouxe ela para perto de sua filha e a apresentou.

- Filha, está é minha melhor e mais forte aluna de magia negra.

- Prazer - A garota estendeu a mão e sorriu, para cumprimentar Tânia. - Meu nome é Natália...

sábado, 9 de maio de 2015

Tânia galopou de volta ao reino, ao chegar próxima o bastante para ver os altos muros do castelo, ela se depara com  uma estranha multidão em volta de um homem uniformizado com as roupas do reino de Drest e que possuía o símbolo da nobreza em seus ombros. Ele estava em cima de um de palco de madeira anunciando algo, Tânia achou aquilo estranho, pois com Talorc morto e Otávio sequestrado, quem iria ordenar um anunciamento em Gharnes, vestiu então um sobretudo que estava em sua bolsa, evitando assim que percebessem sua presença, e foi ver o que era. Quando se aproximou pôde ouvir o homem:

- ATENÇÃO! ATENÇÃO! COMUNICADO OFICIAL DO REI DREST E SUA FILHA NATÁLIA! - ele berrava fazendo com que todos prestassem atenção nele e começou a ler o pergaminho nas suas mãos - "ESTAMOS EM BUSCA DA MAIOR TRAIDORA DE TODOS OS TEMPOS, ELA ROUBOU AS JÓIAS DO REI, SEQUESTROU VOSSO PRÍNCIPE E AGORA MEU CARO POVO, TALORC ESTÁ MORTO! - a população quase toda se surpreendeu com a notícia, e ao fundo podia-se ouvir alguém gritar que queria se vingar - QUEM TROUXER A PRISIONEIRA VIVA OU MORTA GANHARÁ UM TÍTULO NOBRE E DINHEIRO BASTANTE PARA SUSTENTAR 10 GERAÇÕES DE SUA FAMÍLIA, QUEM FOR VISTO AJUDANDO TÂNIA, SEJA DE QUALQUER MANEIRA QUE FOR, SERÁ EXECUTADO SEM DIREITO A DEFESA! "

Todos que estavam assistindo, correram para suas casas, pegaram a primeira coisa que pudesse ferir ou matar uma humana e saíram à caça. Uns iam em direção a floresta, outros ficaram procurando dentro do reino.

Tânia não sabia o que fazer ou com quem contar, então correu para um beco e ficou agachada pensando no que iria fazer para sair de toda aquela confusão. Após um tempo sentou-se, tirou um sanduíche da bolsa e o comeu enquanto assistia aquele povo todo indo atrás dela. Eles estavam, inconscientemente, fazendo a vontade de Natália.

De repente alguém lança uma pedra perto de Tânia, que num rápido movimento pega a faca e aponta na direção de um rapaz moreno, magro, alto e que possuía os dentes um pouco tortos, usava roupas velhas e sujas, sua cara estava borrada de poeira de carvão como se ele tivesse acabado de passar um dia inteiro numa minha de carvão. Ele levou o dedo a boca pedindo para que ela fizesse silêncio e fez sinal para que ela se aproximasse. Tânia não tinha escolha, se não o seguisse talvez ele gritasse para toda população que ela estava ali na cidade.

Então o acompanhou até uma casa antiga, no fundo da cidade, onde foi recebida pela mulher do rapaz. A casa não tinha muita riqueza, o casal era pobre, porém mantinham o ambiente aconchegante e receptivo. 

- Tânia, correto? - disse o homem sorrindo, enquanto servia uma caneca de leite quente para ela - eu sou Prado e esta é minha mulher, Lanuzi.

A mulher possuía os cabelos e olhos castanhos, sua altura era mediana, pele clara como a neve, usava um vestido muito simples, mas era mais bonita que muitas garotas naquele país. Ela cumprimentou Tânia se curvando e sorriu em seguida.

- Muito prazer!

Tânia continuava na defensiva, mesmo o casal sendo tão simpático. Ela não sabia qual era a verdadeira intenção deles.

- Vão me entregar para o rei? - Ela fitava a caneca - Se forem fazer isso por favor me escutem primeiro. Eu não fiz nada disso, Talorc... - ela lacrimejou - Não é justo! Ele era meu amigo...

- Se acalme minha querida - a mulher chegou perto e a abraçou de lado - nós sabemos que foi tudo a princesa Natália.

- Sabem? - Tânia mudou sua expressão agora estava surpresa - Como?

A menina sorriu.

- Nós eramos servos fieis ao rei Talorc, ele nos contava sobre seus segredos, conquistas e derrotas. - ela pegou um papel, que por uma momento Tânia havia confundido com uma folha de uma planta qualquer, nele estava escrito

" Caros amigos Prado e Lanuzi, venho por meio deste bilhete, lhes informar sobre a princesa Natália, ela não é quem diz ser, ela é egoísta, só pensa em si mesma, fria, má e perversa. Foi ela quem sequestrou nosso príncipe Otávio. Caso eu não volte vivo desta missão que parto agora ao lado dessa destemida camponesa, assim que ela voltar digam-na que eu nunca vou ter como agradecer a ajuda dela. É de meu desejo que Tânia vire a rainha de Gharnes ao lado de Otávio, tenha acesso a toda fortuna real e controle total sobre nosso país. Deem esta carta para o conselho real que cumprirá meu desejo, um abraço para vocês e que sua criança nasça com muita saúde e prosperidade, com carinho, do seu rei, Talorc."

Tânia ficou emocionada ao ouvir cada palavra de seu amigo, ela estava tão focada que nem pode perceber a barriga de Lanuzi.


- Quantos meses? - ela secava suas lágrimas.


- Por volta dos 4 já. - ela acariciou a barriga - continuando, Talorc me confiou também metade da poção da verdade quando foi entrevistar Natália e eu pude ver que ela realmente estava mentindo.

- Ele sempre foi um rei esperto e consciente das coisas. - Prado se sentou numa poltrona perto da lareira - ao ir junto de você em busca de Otávio, sabia que talvez não voltasse vivo de lá. Sempre foi um bom rei para todo seu povo, e se ele escolheu você para suceder o trono, ele sabia exatamente o que estava falando.

- Preciso destruir Natália para vingar a morte de Talorc - Tânia se levantou - Obrigado pela hospitalidade mas eu preciso ir o quanto antes.

- Tudo bem não vamos te forçar ficar aqui, você precisa deter a princesa e salvar toda nossa terra.

A camponesa já ia saindo pela porta da casa quando Lanuzi desmaiou, ela não podia deixar de ajudar aqueles que a acolheram, então resolveu voltar e verificou que a mulher estava com febre.

- O que houve com ela? - Tânia estava nervosa.

- Eu não sei, ela estava bem a um segundo atrás. - Prado estava ao lado de sua noiva, que respirava fundo, como se estivesse ficando sem ar.

De repente uma risada ecoa na casa e uma nuvem roxa aparece dando origem agora a uma garota que todos naquele continente conheceriam de longe. Ela sorriu para Tânia.

- Então é aqui que você se esconde? - Ela sorriu - Achou mesmo que poderia vir nas minhas terras sem ser detectada? Sei muito bem o que Zelani te deu...

- O que você fez a Lanuzi sua megera?  - Tânia apontava o arco com uma flecha para Natália - Ande! Diga logo o que você fez!

- Ora nada demais apenas retribui a traição contra a princesa - ela passou as mãos no cabelo de Lanuzi deitada - Digamos que o filho dela será um grande monstro e me ajudará futuramente HAHAHAHA!

- Não! - Prado chorava - Porque fez isso ? Porque Natália?

- Não é nada contra você camponês - ela apontou para Tânia - é mais com essa aqui.

- Pare com isso Natália, ela não te fez nada! - Lanuzi se contorcia no chão, enquanto o bebe não parava de se mexer na barriga da mãe - O que quer em troca? Quer que eu me entregue é isso? Eu me entrego - ela jogou o arco no chão - Estou aqui ande me mate!

- Não, não isso seria muito fácil, o antídoto para reverter a maldição está em sua bolsa - ela balançou a mão e um frasco apareceu em sua mão.

- Não! Como você sabia sobre isso!? - Em um movimento rápido ela tomou o vidro da mão da bruxa.

- Tânia, Tânia, eu sei de mais coisa sobre sua vida que você - ela encarou a heroína e sorriu maleficamente - Acha que não procurei tudo sobre você, assim que a vi beijando o meu noivo? Eu assisti a luta de Talorc contra Hélase e vi você enchendo com sangue da minha discípula.

- Me leve com você, deixe-os em paz!

- Agora é muito tarde. Ou você da a poção da imunidade para Lanuzi ou o filho dela será condenado a me servir pelo resto da eternidade. - disse Natália abrindo um largo sorriso.

Tânia não pensou duas vezes e deu o frasco para Prado que deu todo o líquido a sua noiva, ela aos poucos foi recuperando a cor e o bebê se acalmando.

Natália deu as costas mas antes de ir disse:

- A proposito Tânia, se eu fosse você não demoraria muito para sair de Gharnes - ela apontou para fora onde uma multidão estava vindo em direção a cabana.

Tânia pegou sua faca na bota e arremessou, mas já era tarde, a bruxa havia sumido numa nuvem roxa deixando apenas sua risada no ar.

Lanuzi voltou a ficar consciente. Prado e Tânia a levantaram e sentaram-na numa cadeira.

- Você está bem, meu amor? - Prado segurava uma das mãos de sua mulher.

- Prado tenho que ir, você viu a multidão vindo para cá - Tânia se levantou pegou sua bolsa, colocou o arco nas costas e botou sua faca na bota novamente.

- Tem um alçapão no fundo da casa que sai na floresta, leve estes pães com você.

- Obrigada pela ajuda. - Ela cumprimentou ele. 

- Antes de ir me responda. Que poção era essa?

- A poção da imunidade negra que Zelani me dera.

- A rainha das fadas é real !? - Prado ficou surpreso e feliz. - Sempre quis vê-la pessoalmente.

- Mais real do que você pensa - ela abriu a porta no chão - até mais breve meus amigos, eu voltarei para ver como seu filho será - e entrou no alçapão.

- Que Zelani te guie daqui para frente - Prado acenou.

- Até mais futura rainha! - Lanuzi falou entre respirações.

Tânia entrou no local que o camponês havia comentado, andou muito até que chegou ao outro lado da floresta, ela já sabia para onde iria, precisava de resposta para as perguntas que ficavam rodeando sua cabeça, e só existia um ser capaz de responde-las.

Depois de andar por algumas horas chegou a seu destino, subiu em cima de uma rocha e gritou:

- ZELANI! - Ela parecia querer chorar - Eu sei muito bem que você está ai, sei que está me ouvindo agora e sei também que você sabe qual são as minhas perguntas. - Tânia começou a chorar levemente - Por favor, ao menos responda quem sou eu? E porque Natália não me mata logo e acaba com esse sofrimento? Me diz!

Nada aconteceu, Tânia ficara decepcionada, precisava das respostas, ela não sabia se conseguiria derrotar Natália sem aquela poção.

Estava quase partindo, já havia desistido, quando uma luz amarela clareou toda a região, poderia ser vista a quilômetros de distância. Tânia sorriu e se virou.

- Zela... - a camponesa se surpreendeu com o que viu, a mulher que estava a sua frente não era Zelani, ela era mais bonita, possuía os cabelos pretos, seu sorriso era lindo, tinha as asas mais belas que Tânia já viu. A futura rainha de Gharnes começou a chorar de felicidade, reconheceria aquela fada em qualquer lugar que fosse.

- Mãe!? - Tânia não estava acreditando no que via, podia jurar que havia visto sua mãe sendo decapitada no passado e agora ela estava ali viva bem na sua frente. - Como a senhora sobreviveu? 

- Sente-se minha filha, eu lhe explicarei tudo...


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Otávio estava de cara de cara com a fera. O leão não pensou duas vezes antes de saltar para cima do príncipe, porém Otávio foi mais rápido e desviou do ataque, os dois voltaram a se encarar e novamente o mascote de Natália partiu para cima, contudo dessa vez com êxito com uma patada o monstro retirou o capacete do filho de Talorc. A fera começou a deferir mordidas em direção ao rosto de Otávio, que se defendia usando seu escudo, mas a mordida do leão era tão forte que acabou partindo escudo em duas partes. A besta continuou seus ataques em direção a face, dessa vez Otávio teve que se defender com o braço, ele observou que a armadura do animal era muito rígida e o único onde não tinha nada era sua boca, o príncipe pensou bem e com um golpe rápido de espada, ele atingiu a cabeça do bicho que ficou atordoado e cessou por um instante os ataques, nesse momento Otávio pegou sua espada e quando a fera conseguiu se recompor e voltou a atacar o príncipe, que num rápido movimento impôs sua lâmina atravessando o palato do animal e saindo pela sua cabeça. A fera recuou, deu um último rugido e virou cinzas. Assim que a fera morreu o labirinto se desfez, Otávio se viu na mesma sala escura que Natália o aprisionara. Ele deu alguns passos e foi ao exato local onde o leão havia sumido, agora naquele lugar existia um pequeno colar com uma pata de leão como pingente, Otávio não entendeu muito bem, mas pegou e colocou em seu pescoço.

Enquanto isso a batalha entre Hélase e Talorc, não estava nada favorável ao rei. Ele estava esgotado, cheio de feridas e sujo. A bruxa abaixou, se transformou em um lobo e correu na direção do homem, que recebeu uma mordida em seu braço, a maga negra recuou e voltou a forma normal.

- Acha mesmo que é pálio para mim? - Ela riu em tom de deboche - Você não possui a magia branca necessária para me matar.

O rei olhou para Tânia que ainda estava aprisionada, ela entendeu na hora que "não dava mais para ele lutar", a bela camponesa abaixou o rosto com um olhar triste.

- Oh que meigo! Sinto muito em acabar com esse momento entre sogro e nora - Ela falou debochadamente - É bem simples Talorc, desista e eu deixo vocês dois viverem como meus eternos servos, no meu novo reino!

Talorc continuava focado olhando para Tânia, ficou algum tempo assim até que Hélase ficou sem paciência e virou um gigante.

- Acabou seu tempo de pensar!

Ela chutou e o rei bateu em uma árvore. Talorc não conseguia levantar, estava cuspindo sangue e  com algumas costelas quebradas.

- Renda-se logo Talorc - Hélase riu - Você sabe que não é capaz de me matar HAHAHAHA...!

O rei não conseguia se levantar ou pronunciar uma palavra se quer, ele se virou para Tânia mexeu os lábios, não saiu som algum, Tânia começou a chorar mas concordou com a cabeça. Hélase virou uma guerreira amazona e possuía uma lança que soltava raios.

- Adeus Talorc! - Hélase enterrou a lança no peito do rei.

Tânia virou a cara, não aguentava ver aquela cena, começou a chorar. O círculo roxo foi desfeito, ela correu chegou perto do rei e deitou sua cabeça sobre o peito dele.

Não tem mais volta Tânia - Hélase fingiu estar com pena - Somos só eu e você querida, então vai vir comigo e obedecer a sua nova rainha ou vai ter o mesmo destino desse patético homem?

- Não... - Tânia  sussurrou.

- O que? eu não ouvi - Hélase chegou perto da camponesa.

- Eu não vou lutar, pode me levar com você - Tânia esticou as mãos para fazer um acordo com Hélase.

A bruxa sem pensar duas vezes apertou a mão de Tânia. A plebeia sacou seu arco e apontou para a bruxa.

- Acha mesmo que pode me derrotar? - Hélase riu.

- 30 - Tânia disse a ela.

- Agora além de insana em me enfrentar, ficou louca foi? falando números aleatórios?

- 29 - Tânia puxou a flecha contra seu peito.

- Deseja me enfrentar? - a bruxa sorriu - Terei o prazer de matar você!

Hélase tentou se transformar, porém nada aconteceu, ela ficou sem entender o que havia acontecido, fez o gesto de transformação novamente e nada voltou a acontecer. Tânia soltou a primeira flecha em direção a coxa direita da bruxa, acertou em cheio. A plebeia pegou outra flecha, colocou em seu arco, seus olhos lacrimejaram "por Talorc" pensou e, dessa vez, acertou a coxa esquerda. Hélase estava agora de joelhos.

- O que você fez com meus poderes sua imunda!? - Hélase disse assustada.

- 15 ... - Tânia tirou sua faca de dentro da bota - Aprenda uma coisa, nunca aperte a mão de alguém sem olhar antes o que tem nela.

Hélase arregalou os olhos e olhou sua mão direita, um dado de cor branco e dourado  estava enterrado em sua palma.

- Zelani! - a bruxa gritou - então ela ajudou a vocês, aquela fadinha ainda me paga!

- De onde você a conhece? - Tânia ficara confusa.

- Um dia você saberá minha cara, o porque de você estar viva e seus pais não... - antes que a bruxa terminasse a frase, Tânia indagou.

- Hélase! o que você sabe sobre meus pais? - Tânia estava confusa.

- Own minha querida - Hélase ainda de joelhos - A fadinha não te contou nada? você nem ao menos lembra por quem foi criada?

- Eu vivi sozinha nunca precisei de ninguém para sobreviver! - Tânia começava a lacrimejar, afinal ela nunca gostou de fato de ter ficado sozinha.

- Então foi essa memória que ela impôs na sua cabeça? - Hélase gargalhou.

- Ela quem!? - a camponesa estava furiosa.

- Deixa de ser burra - a bruxa continuava rindo - Você sabe tanto de magia quanto eu, então me responda, Somente quem tem a capacidade de alterar a memória de outro ser?

- Aquele no qual deu a vida a este ser - Tânia começara a chorar - minha mãe está viva!? 

Antes que a bruxa conseguisse pronunciar a próxima frase, a voz dela simplesmente sumiu, ela nao conseguira mais falar uma palavra se quer. Tânia não entendera o porque da bruxa ficar sem a fala, mas pensou que se não matasse Hélase o que fez ela emudecer, poderia ser bem pior e mais mortal. Aos prantos, ela se aproximou da bruxa e fez um corte no rosto da mesma, pegou seu sangue com o frasco que Zelani deu a ela e sacudiu a poção misturando os dois líquidos.

- Acho que deve dar - Tânia pegou mais uma flecha, se afastou da bruxa. - Hélase, chegou a sua hora, chegou a hora de pagar tudo o que você fez em terra, morra bruxa pelas minhas mãos!

Tânia lançou a flecha que acertou a garganta de Hélase arremessando ela para trás e fincando numa árvore. Ela foi até a bruxa retirou as flechas, limpou-as num lenço e guardou em seu aljave. A camponesa pegou o corpo do rei, botou em seu cavalo e o levou para um lugar perto do rio, ela colocou ele no chão, pegou flores em locais próximos, cortou madeira, fez um suporte para colocar o corpo do rei, pediu para que Zelani o guiasse para sua próxima vida, Tânia não podia acreditar que estava chorando pelo homem que matou seu pai, o homem que ela sempre odiou, desejou morto e agora mesmo depois de seu desejo se realizar, ela estava inconformada com aquilo, não podia aceitar que alguém morresse daquela forma. Ela  colocou o rei sobre aquele monte de madeira amarrada, botou flores em volta dele e empurrou a pequena balsa, ficando em silêncio vendo o corpo do rei ir mar à dentro.

- Eterno companheiro eu sempre me lembrarei de você - Tânia não podia controlar suas lágrimas - Eu vingarei sua morte, salvarei seu filho e cumprirei seu desejo de não deixar o reino sem um rei.

Tânia secou as lágrimas, deu as costas, montou em seu cavalo quando estava indo embora, parou, olhou para trás e disse com a voz calma e triste.

- Adeus Talorc, meu eterno amigo...


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